Muito se fala sobre gestão da inovação e seus princípios, mencionando os principais mecanismos como elementos fundamentais, abrangendo aspectos de cultura organizacional, indicadores de performance e sistemas de recompensa, entre outros.
O essencial é que cada empresa estabeleça seus próprios indicadores, etapas e regras que se alinhem de maneira eficaz com suas operações. Aqui, oferecemos uma perspectiva embasada em nossa extensa experiência de 14 anos como especialistas no setor de inovação, após analisar milhares de projetos e construir inúmeros planos estratégicos de inovação.
Destacamos a importância de que todo processo de gestão da inovação incorpore indicadores apropriados e apresentamos 10 indicadores que consideramos essenciais, fundamentados em nossa vivência prática e abrangente como uma consultoria de inovação e em nosso profundo conhecimento de todos os incentivos existentes no país.
São elas:
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1. Skills individuais
As empresas contam com indivíduos que trazem consigo uma riqueza de competências individuais em diversas áreas de conhecimento e aplicação, capazes de agregar valor ao negócio. No entanto, o impacto dessas habilidades pode variar significativamente, dependendo de como esses recursos humanos são gerenciados e em quais áreas da organização eles atuam.
A efetiva gestão e alocação desses talentos desempenham papel fundamental no sucesso da empresa. Ao identificar adequadamente as competências de cada indivíduo e alinhar suas habilidades às necessidades específicas de cada área, a organização pode otimizar o aproveitamento dos recursos disponíveis e impulsionar seu desempenho geral. Também é necessário investir no desenvolvimento contínuo dessas competências e promover um ambiente colaborativo e estimulante.
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2. Competências essenciais do negócio
As competências essenciais de uma empresa são aquelas em que ela se destaca, possui grande conhecimento, habilidades comprovadas e muita experiência. É essencial fazer um inventário correto de todas essas competências para compreender o nível de excelência de cada uma delas em uma escala de 1 a 10. Isso permite a identificação das áreas nas quais a empresa mais se destaca e também aquelas que precisam ser aprimoradas.
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3. Plataformas Tecnológicas
Ao realizar o inventário das competências individuais dos times internos e fornecedores que tiveram projetos de sucesso, e ao conectá-lo com as competências essenciais do negócio já comprovadas, podemos obter valiosas informações sobre as plataformas tecnológicas utilizadas pela companhia e seu potencial real para explorar novas plataformas, considerando todo o contexto de pessoas e experiências disponíveis.
Essa análise nos permite compreender melhor a capacidade atual e futura da empresa em explorar tecnologias. Quando identificamos as competências-chave que contribuíram para o sucesso de projetos anteriores, é possível entender quais plataformas tecnológicas foram mais eficazes e como elas se alinham com as competências essenciais do negócio. Também é possível mapear lacunas e adotar novas plataformas que sejam mais compatíveis com as expertises e necessidades da empresa.
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4. Cultura de Inovação da empresa
A cultura de inovação em uma empresa reflete sua abordagem em relação a projetos de inovação internos. Uma empresa que valoriza a inovação oferece suporte aos projetos desde a concepção até a implementação, recompensando o sucesso e incentivando o aprendizado com os membros da sua equipe. A estratégia de inovação pode ser defensiva, visando manter-se competitiva, ou ofensiva, buscando liderança de mercado e crescimento acima da média. Essa cultura molda a forma como a empresa enfrenta desafios e busca o sucesso a longo prazo.
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5. Estratégia de Inovação
A empresa considera a Inovação essencial para sua sobrevivência e crescimento ou apenas uma opção para evitar obsolescência e estagnação?
A estratégia de Inovação é conduzida por decisões e ações intencionais, que têm objetivos claros e bem definidos, tais como datas de realização previstas e amplamente divulgadas internamente. Essa abordagem de inovação é perceptível nos corredores da empresa e nas conversas informais, onde é discutida e vista como algo planejado e acertado. Os funcionários também carregam consigo fora do ambiente de trabalho, percebendo-a como uma abordagem positiva, porém também ciente dos riscos inerentes.
A empresa por sua vez, precisa envolver todas as partes interessadas, desde clientes, fornecedores e parceiros de negócios até canais de venda e funcionários, demonstrando o compromisso com a Inovação e a importância de manter-se atualizada e competitiva. Essa mentalidade de Inovação permeia a cultura da empresa, incentivando a criatividade e o progresso contínuo para atingir o sucesso sustentável no mercado.
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6. Orçamento de Recursos para inovação.
Falar sobre gestão da Inovação e considerar a possibilidade de não gastar recursos financeiros adicionais, mas sim realocar pessoas e redirecionar gastos com fornecedores, pode ser uma ideia viável, porém, certamente não é uma tarefa simples. Para de fato impulsionar a Inovação, é essencial estruturar iniciativas em torno de projetos bem definidos, que por sua vez devem ser ancorados em planos de curto e médio prazo, como períodos de 1 ano, 2 anos, 3 anos e até 5 anos. Essa estruturação é crucial para alcançar resultados significativos e tornar todo o processo mais realizável e eficaz. Sem esse planejamento, a gestão da Inovação se torna uma tarefa desafiadora e pouco efetiva. Ter um orçamento de recursos financeiros aprovados pela diretoria é essencial para seu sucesso. Esse orçamento deve ter valores e datas em um cronograma físico-financeiro bem definido.
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7. Fontes de Recursos para inovação
Para impulsionar a inovação, as empresas devem estabelecer uma estratégia clara de financiamento para suas iniciativas e projetos de inovação. Ter um orçamento dedicado aos investimentos relacionados (Capex) e despesas auxiliares (Opex) é fundamental, pois a inovação requer recursos financeiros. Isso permite planejar e priorizar as iniciativas de forma eficaz, garantindo que as ideias se tornem realidade e a empresa mantenha sua competitividade no mercado.
Fontes de recursos para inovação:
• Lei do Bem (Lei nº 11.196/05) - Incentivo fiscal para inovação
• Finep - Financiadora de Estudos e Projetos
• BNDES - Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
• Embrapii - Empresa brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial
• Recursos de bancos comerciais
• Recursos de operações estruturadas do mercado de capitais
• Recursos internos da empresa podendo ser reinvestimento de lucros gerados em exercícios fiscais anteriores ou no próprio exercício social
• Novo aporte de capital dos acionistas
• Aporte de capital de investidores através de operações estruturadas
Falar sobre Gestão da Inovação sem ter o mapeamento e a capacidade de explorar essas fontes de modo eficiente dificulta o processo da empresa.
8. Os indicadores
Muito se fala dos indicadores de inovação provenientes de grandes escolas de negócios e universidades ao redor do mundo. Estes, criados periodicamente por especialistas, englobam uma variedade de métricas que podem ou não ser relevantes para cada empresa. Tais indicadores, chamados de acadêmicos estratégicos, são significativos, mas não são primordiais para o sistema financeiro e acionistas ao avaliar resultados trimestrais do negócio ou conceder crédito para operações financeiras de grande porte. Ainda que importantes, estes indicadores não são os que mais impactam no valor de uma ação de uma empresa listada na bolsa em um longo prazo.
Os indicadores de inovação mais eficazes são aqueles que causam um grande impacto nos números subjacentes às demonstrações financeiras da empresa, assim como na sua base de clientes ativos ou na penetração de mercado. Estes são os que afetam substancialmente o valuation da empresa e suas condições de rentabilidade, crescimento e crédito.
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9. Riscos e Contingências da Inovação
Inovar é fazer diferente, é experimentar o novo e perseguir resultados superiores aos atuais. É encarar uma zona de risco, consciente de que as iniciativas, projetos e planos estratégicos de inovação podem não ser bem-sucedidos. Caso haja um investimento financeiro significativo, essa falha pode implicar um alto custo para a organização.
Conhecer profundamente a Lei do Bem (Lei nº 11.196/05), o principal instrumento de estímulo às atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil, é essencial nesse jogo. A Lei do Bem permite o abatimento de impostos federais sobre o Lucro Real como IRPJ e CSLL de 20,2% até 27,2% em todos os investimentos de inovação que possam ser enquadrados.
Bancos e entidades de fomento à inovação, como BNDES e Finep também oferecem linhas de financiamentos subsidiadas e com juros menores do que os praticados pelo mercado, com prazos de carência de 1 a 3 anos e pagamentos de até 12 anos. Essas “vantagens” visam mitigar riscos com a implementação de planos estratégicos de inovação.
Se de um lado existe a “compra” do risco tecnológico em até 27,2% dos projetos, do outro existem financiamentos com juros muito abaixo do mercado e prazo generosos de carência. Ambas a opções são fundamentais para o sucesso de iniciativas de gestão da Inovação dentro das empresas.
Essa assunção de risco parcial da parte do governo federal como meio de estímulo a atividade de inovação de empresas do Lucro Real é necessária para que as que empresas possam encarar o risco da inovação e encarar esse desafio com muito mais tranquilidade.
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10. Planejamento de diferentes tipos de inovação na empresa
Uma mesma organização pode ter diferentes tipos de inovação dentro de seu ciclo operacional e de planejamento. Não se deve acreditar que uma empresa está limitada a um único tipo de inovação, ou que seu comitê diretor e CEO não possuam a coragem para inovar em diferentes níveis de risco. Limitar tal percepção, derivada de um consenso simplista, fundamentado apenas em dados quantitativos frios coletados de pesquisas não deve ser consenso.
A estratégia de uma organização deve considerar todas as vias de inovação, explorando as relações com universidades, centros de tecnologia, startups, pesquisadores e estudos científicos deve ser uma prática regular para preencher lacunas e potencializar a inovação. Fornecedores internacionais, ao buscarem novos mercados, também são fontes ricas de inovação. A limitação à geração interna de conhecimento limita a amplitude inovativa de um negócio.
Atividades de relevância e lucratividade não representam a totalidade do que uma organização pode realizar. No Brasil, as inovações incrementais predominam, mas não devem ser o único foco. Mesmo com recursos limitados, empresas podem e devem buscar outros tipos de inovação, investindo em pesquisas aplicadas e prototipagem a custos viáveis. Atuar em frentes de inovação que representem impacto financeiro imediato e a curto prazo pode não ser a estratégia mais acertada. É fundamental diversificar a atuação inovativa para maximizar o potencial estratégico.
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Essa figura exemplifica a base dos tipos de inovação entre tecnologia e modelos de negócios. Em geral, a maior parte do foco e da análise estatística disponível concentra-se na inovação incremental, que emprega tecnologia semelhante à existente em um modelo de negócios já estabelecido na empresa.
Recursos de fomento não reembolsáveis, como os oferecidos pela FINEP, juntamente com as iniciativas propostas pela Lei das Startups, podem ser utilizados para alavancar uma variedade de incentivos fiscais e obrigações de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Tais obrigações incluem, mas não se limitam a, a Lei do Bem Cap. III, a Lei das TICs de modo geral, Rota 2030, obrigações de P&D da ANEEL e ANP, e outros recursos como os FIPs - Fundos de Investimentos privados que podem operar com recursos de obrigações de P&D.
Além disso, outras estruturas como Fundos de Venture Capital (VCs) podem financiar diferentes tipos de inovação. Esses financiamentos podem ocorrer mesmo se gerados por diferentes CNPJs da mesma empresa, ou por meio de uma parceria com um centro de tecnologia ou universidade.
A origem e o volume dos recursos desempenham um papel significativo na orientação do tipo de inovação gerada. Geralmente, os recursos dos acionistas, sejam eles derivados de aporte direto, alocação de lucros de exercícios contábeis anteriores ou de empréstimos e incentivos fiscais direcionados como a Lei do Bem Cap. III ou mesmo FINEP Inovação ou BNDES linhas de inovação, tendem a evitar inovações Semi-Radicais ou Radicais. Isso ocorre principalmente porque tais inovações consomem recursos internos da empresa, sua estrutura de garantias reais existentes, ou implicam na contratação de garantias no mercado financeiro, implicando em certo custo e risco.
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A imagem acima, retirada do livro “As regras da inovação: como gerenciar, como medir e como lucrar”, exemplifica as alavancas para os três tipos de inovação e qual poderia ser a sua estrutura de captação de recursos especifica e mesmo volume.
A Lei Nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, que dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica tipifica todos os atores do sistema brasileiro de inovação e lança bases de seus potenciais interações.
Uma estratégia crucial para potencializar a gestão da inovação em uma empresa envolve a execução de uma ampla variedade de iniciativas, tanto em projetos de menores e maiores investimentos. É então essencial utilizar todos os mecanismos de fomento disponíveis, promovendo a participação ativa de todos os atores envolvidos no sistema.
A negligência no aproveitamento máximo de leis, agências de fomento e outros mecanismos de incentivo pode restringir as empresas a operarem em níveis básicos de inovação incremental. Isso limita seu potencial de geração de receita para patamares médios ou baixos, fazendo com que seu crescimento dependa mais de iniciativas voltadas à organização e modernização do que ao lançamento de produtos e serviços inovadores.
Por isso, é importante não apenas explorar tais recursos ao máximo, mas também estimular a inovação em todos os níveis. Assim, as empresas podem expandir além da inovação incremental padrão, fomentando um crescimento sustentado por novas ofertas de produtos e serviços de alta qualidade e valor agregado.
Todos os negócios precisam explorar todas as oportunidades de fomento e desenvolver em maior ou menor grau todos os tipos de inovação. O entendimento amplo do sistema brasileiro de inovação e todos os seus mecanismos é chave para isso.
Sócio Fundador da Macke Consultoria.